Gênero: Thrash Metal
02. These Bloody Days
03. Ancient Power
05. The Unsung Requiem
06. Ghostly Shadows
08. Beyond the Valley of Despair
09. Violent Show
11. Silent Force
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Imagine-se em um bom restaurante. Você pede ao garçom um suculento filé mignon. A carne chega impecável, ao ponto ideal e com uma bela apresentação, mas acompanhada por um inusitado ingrediente extra (maiores detalhes ficam a cargo de sua imaginação). Ao provar, imediatamente nota-se que o tal elemento surpresa aprimorou ainda mais o sabor da refeição, realçando a sua já excelente experiência gastronômica. Pois bem, essa foi a minha sensação ao ouvir “Predatory”, novo álbum de estúdio da banda SCARS.
Formado em 1991, o grupo atravessou diversos altos e baixos durante sua carreira: desde o reconhecimento na metade dos anos noventa, com o split “Ultimate Encore”; passando pela ascenção na época do incrível EP “The Nether Hell”; até a queda em “Devilgod Alliance”, primeiro full-lenght, que embora seja um bom disco, marcou uma brusca alteração no line-up e posterior encerramento das atividades. Finalmente (e felizmente), no ano de 2018, Régis F. (vocal) e Alex Zeraib (guitarra), integrantes da formação clássica, resolvem reativar o SCARS, após uma massiva campanha online por parte dos fãs. Poucos meses após o anúncio do retorno, duas novas músicas foram disponibilizadas através das plataformas digitais – “Armageddon” e “Silent Force”, prontamente aclamadas por público e crítica especializada. 2019 veio com uma série de shows brutais e memoráveis, em divulgação à nova fase da banda. Mas, ainda falta algo para consolidar essa volta, certo? Pois bem, a espera está próxima de terminar. “Predatory”, novo álbum de estúdio do quinteto, será lançado mundialmente no dia 07 de Agosto de 2020, pela gravadora Brutal Records. A produção é assinada por Wagner Meirinho, e a arte da capa pelo designer gráfico Luís Dourado.
Além dos já citados Régis e Alex, o line-up atual conta com Marcelo Mitché no baixo e João Gobo na bateria. O posto de segundo guitarrista sofreu algumas alterações ao longo dos meses, mas se estabilizou com a entrada do virtuoso Thiago Oliveira, que, entre outras, foi parte da banda do lendário cantor Warrel Dane (Nevermore, Sanctuary).
Primeiramente, é necessário destacar o conceito central do disco, que como sugere o título, aborda o predatismo infreável do ser-humano, prática esta que é cruelmente aplicada à todas as esferas imagináveis: fauna, flora, corporativismo, âmbito social, etc. Um tema incondicionalmente contemporâneo, que nos faz refletir sobre os porquês de vivermos em um mundo assolado por tristeza, ódio, doenças e corrupção.
A este ponto, provavelmente o primeiro parágrafo da matéria ainda soe desconexo para você, caro leitor, mas irei explicar. Quem conhece o SCARS sabe que o grupo executa um Thrash Metal do mais alto gabarito – a nível internacional – portanto, as minhas expectativas acerca do novo álbum, naturalmente, eram extremamente elevadas. E o resultado final traz sim todo esse poder de fogo esperado, mas com um notável refinamento técnico e a muito bem-vinda inserção de elementos nunca antes explorados pela banda, ao menos não de forma tão acentuada.
A faixa-título, “Predatory”, abre os trabalhos. Perfeitamente alocada neste início, possui uma boa introdução atmosférica que precede a pancadaria sonora, apresentando logo de cara ao ouvinte o panorama geral da bolacha: letra forte e pegajosa, poderosos riffs / solos de guitarra, baixo pujante, bateria demolidora e vocais furiosos, para headthrasher nenhum botar defeito. Na sequência, temos a direta e crua “These Bloody Days”, um violento soco na boca do estômago, sucedida por “Ancient Power”, canção de andamentos variados que, assim como outras que virão a seguir, explora temas ligados ao misticismo e ocultismo (cortesia do frontman Régis, um estudioso da área). “Sad Darkness Of The Soul” aborda um assunto pertinente e bastante em voga: a depressão, que eventualmente culmina no desejo do suicídio. A sonoridade é marcante, densa e sombria, assim como seu conteúdo lírico, além de possuir uma primorosa abordagem instrumental / vocal, com destaque às fantásticas linhas do contrabaixo de Mitché. Dando continuidade ao álbum, temos a instrumental “The Unsung Requiem”, com sua belíssima melodia erudita apocalíptica; “Ghostly Shadows”, que apesar de evidenciar toda a influência da escola norte-americana do Thrash que a banda possui, traz saborosas pitadas de Death Metal; e “The 72 Faces Of God”, música tradicional, robusta e recheada de cadência. O encerramento da vertente inédita da tracklist fica por conta da rica “Beyond The Valley Of Despair”, dona de passagens e solos de guitarra memoráveis (o que é uma constante em todo o registro), remetendo a ícones como Testament, Forbidden e Nevermore; e finalmente, “Violent Show”, 6 minutos e 36 segundos convertidos em pura brutalidade old school, fazendo assim jus à sua alcunha. Se já não fosse o suficiente, foram ainda incluídos, como faixas bônus, os anteriormente mencionados singles “Armageddon” e “Silent Force”, que é justo dizer, podem ser considerados jovens ‘hits’ do Metal extremo nacional, portanto, dispensam maiores comentários.
Diferenciado e visceral, “Predatory” foi concebido com absoluto esmero por uma equipe de músicos que entende, ama e respeita um dos mais queridos subgêneros do Heavy Metal. Importante marco na carreira do SCARS, que assim como uma fênix, ressurgiu – mais uma vez – triunfante das cinzas. Decerto este irretocável registro será lembrado nas tradicionais listas de melhores do ano.
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