1. Inverno Inverso
2. Wine Again
3. Pei
4. Mother's Prayer
5. Adeus Flor Morta
6. Mar Estar
7. Fogo Nosso
8. 0+
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Ma é a palavra japonesa usada para identificar um espaço ou pausa entre duas partes. Sugere intervalo, une uma coisa a outra. Ma é também o segundo disco do quinteto paulistano Huey, sucessor do aclamado Ace, de 2014.
Quatro anos se passaram, e Ma, sob a perspectiva do Huey, é mais que intervalo: é conexão. Em 8 faixas, o disco nos traz variadas possibilidades de preencher o vazio e o espaço com riqueza instrumental, além de demonstrar trânsito fácil entre o peso e a sutileza. Muita teoria? Então imagina o silêncio valorizado pelas entradas e saídas das guitarras incandescentes de Vina, Dane e Minoru e pela cozinha furiosa de Vellozo (baixo) e Rato (bateria), evidenciado pela produção do norte-americano Steve Evetts (The Dillinger Escape Plan, Sepultura, The Cure), que capturou o vigor espontâneo da banda e o expandiu em camadas ainda mais definidas. A masterização, a cargo de Alan Douches (Baroness, Year of No Light, Earth), deixa a propulsão sonora do Huey ainda mais explícita.
Com um segundo álbum, as marcas próprias de uma banda se tornam mais nítidas, e uma que sobressalta no Huey são as admiráveis mudanças de dinâmica em cada música. Como se cada faixa se desmembrasse em três, quatro, cinco estruturas próprias, autônomas, mas que quando ouvidas juntas, estabelecem um corpo sonoro único e diferente. Um soco de vitalidade proposto em riffs rasgados, acordes proeminentes e graves em plena combustão com as batidas. É uma exaltação à criatividade permitida pela música, que consegue contar histórias diferentes a partir de bases comuns.
E qual história o Huey quer contar com as músicas de Ma? A julgar pelas emendas improváveis em cada compasso, conectando o que parecia então inconectável, assimilando o que é diferente sem colocar nele um véu de semelhança, é uma história de pluralidade e de reconhecimento das diferenças. Uma espécie de antagonismo às tendências, mas despretensioso. Quando o movimento mundial parece ser de se fechar em comunidades baseadas na concordância, inclusive na arte, o Huey propõe o apagamento de fronteiras como nota primordial de suas músicas.
O que traz peso, propulsão e relevância a uma música? Certamente é a forma com que melodias, linhas, batidas e riffs são costurados. Mas até que ponto as influências precisam traduzir, de maneira explícita, o som de uma banda? A resposta, em Ma, é imprevisível. Sabe aquele ponto imaginário onde o hard rock Sunset Strip se encontra com o nerdismo do Rush, com a brutalidade do Sepultura, com a visceralidade do Neurosis, com o experimentalismo do Faith No More? Com a delicadeza de Emma Ruth Rundle, a velocidade do thrash, com o sentimento calamitoso do Napalm Death, com a poesia do post rock e com a globalização do Asian Dub Foundation?
Acredite, esse imaginário é traduzido em canções. Mais especificamente, nas poderosas “Pei”, “Wine Again”, “Zero”, “Mar-Estar”, “Inverno Inverso”, “Adeus Flor Morta”, “Fogo Nosso” e “Mother’s Prayer”, que despertam peso a partir dos tempos, flertam com o blues e com o noise, abraçam o stoner e o doom como canal de comunicação do metal e fazem guitarra, baixo e bateria materializarem versos emocionantes, por vezes apoteóticos.
Dos repertórios distintos dos cinco amigos emerge uma identidade afeita à construção e à singularidade. O Huey assume uma personalidade cada vez mais… Huey. Com assinatura própria, a banda mostra um segundo disco confiante de seu ponto de partida e completamente aberto aos caminhos improváveis que a arte pode tomar. É o registro onde o quinteto lapida o peso de suas expressões mais desenfreadas e o reveza com momentos melancólicos e reflexivos, endossando a riqueza de emoções da vida.
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