Gênero: Death Metal, Doom Metal
1. Decessum - Instrumental
2. Elegia
3. Dust
4. Fever
5. Inert
6. Vampire
7. Lucretia
8. Somber
9. Dissolve
10. Dolor - Instrumental
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Quase sete anos após o lançamento de seu primeiro trabalho, o já clássico “The Universe Shouts my Name”, a paulista BLAZING CORPSE lança, através da Blasphemy Productions, seu tão aguardado segundo álbum, “Inert”. A belíssima intro “Decessum” prepara o ouvinte para a impetuosa dança com a morte em cada uma das dez faixas desta negra egrégora.
O clima soturno segue em “Elegia”. Aqui percebemos o quão importante foi o papel desta nova formação na concepção deste trabalho. As sempre deslumbrantes guitarras de André Luis e os vocais ainda mais impressionantes de Adriano Luis agora possuem a companhia do baixo inspirado de Iago Rocha, os suntuosos teclados de Fabio Castellar e a deslumbrante bateria de Claudinei Araujo. Nesta música, é perceptível o entrosamento desta formação e o quanto isso será proveitoso para a banda.
Mal consigo me recuperar do êxtase inicial e surge um dos melhores momentos de “Inert”. A faixa “Dust”, sem dúvidas, possui todos os elementos característicos que a banda construiu nestes 30 anos de existência. Seu andamento inicial, extremamente denso e carregado de desesperança convida de imediato a sentirmos a consternação que a envolve. Em sua primeira metade, seguimos numa marcha fúnebre tão profunda, que o único apoio que temos são instrumentos retumbando pelos alto-falantes. Esta marcha segue até a entrada dramática de Adriano Luis que faz desta, uma de suas melhores interpretações.
O hipnótico baixo de Iago Rocha, sob uma belíssima camada dos teclados de Fabio Castellar abrem a magistral “Fever”. Mais uma vez a BLAZING CORPSE mostra o porquê é uma das referências quando assunto é underground. Andamentos altamente inspirados (graças aos riffs incríveis destilados aqui por André Luis e também à retumbante bateria de Claudinei Araujo) criam a atmosfera perfeita para que Adriano Luis utilize toda sua versatilidade vocal para versar sobre um tema tão soturno.
O deleitamento desta audição se torna monumental quando a faixa-título explode pelas caixas de som. De iníco veloz, “Inert” muda seu andamento à medida em que somos bombardeados por tantas sensações que se torna impossível não mergulhar profundamente no oceano niilista apresentado aqui. Destaque para a versatilidade de Claudinei Araujo, mostrando-se um exímio instrumentista, capaz de conduzir com maestria cadência e rapidez. Podemos facilmente considerar “Inert” como um dos momentos mais especiais já compostos pela banda.
Dificílima tarefa descrever a superlativa “Vampire”. Sua enigmática introdução, onde Adriano Luis possui apenas a companhia de um fúnebre baixo, conduz o ouvinte a momentos de tamanho ceticismo e desesperança quanto o solitário voo do filho da escuridão. Um hino tão grandioso, com aspectos tão impressionantes, só poderia ser executado por pessoas que realmente se alimentam da escuridão e bebem o sangue da não existência. A percepção que tenho é que tudo soa coeso demais, inspirado demais. Fruto de uma formação que elevou a banda a patamares inimagináveis.
Uma das constatações que faço aqui é que a BLAZING CORPSE evidenciou ainda mais suas inspirações oitentistas em sua sonoridade. Seja na condução dos instrumentos ou até mesmo a vocalização em alguns momentos, fica claro o clima dark/gótico impresso em cada melodia de “Inert”. Propositalmente, talvez, a banda trouxe uma belíssima releitura para um dos clássicos da SISTERS OF MERCY. E esta releitura será capaz de emocionar logo em seus primeiros acordes. Fantástica!
Vamos nos aproximando do final desta imersão noturna quando “Somber” surge sob os suplicantes riffs da guitarra de André Luis. Esta é mais um belo exemplo da sonoridade ímpar da banda. Andamentos extremamente cadenciados e grandiosos criam a aura perfeita para que os potentes vocais de Adriano Luis tragam desengano e descrença.
O disco encerra com a já conhecida “Dissolve” (música lançada como single em 2021 e que apresentou a nova formação), faixa que já se tornou clássica e a instrumental “Dolor”, uma peça tão intensa, tão profunda que consegue ser sublime e tétrica, obscura e reluzente, como o brilho da estrela da manhã.
DESTAQUES
Começo destacando o belíssimo resultado final apresentado na versão física desta obra. Desde a belíssima arte de capa, elaborada por Cayo Farias, passando pelo magnífico layout desenvolvido pela Khorzus Underground Art e finalizando nas obscuras fotos de Rafael Moura, cada detalhe, cada traço foi pensado na composição deste grandiosíssimo trabalho lançado em acabamento luxuoso pela Blasphemy Productions (nos formatos digipack e acrílico). Todo o clima de desolação e ceticismo foi perfeitamente captado em cada traço, em cada pormenor desta obra. Este irrepreensível trabalho torna impossível a audição de “Inert” sem o deleite da contemplação de cada detalhe.
Merecem destaques também a coesão da atual formação da BLAZING CORPSE. A adição de músicas talentosíssimos como Iago Rocha, Claudinei Araujo e Fabio Castellar elevam a capacidade criativa da banda, possibilitando aos irmãos Adriano e André Luis liberarem toda a criatividade existente. Ressalto ainda as faixas “Dust”, “Inert” e “Somber” como destaques em um trabalho repleto de momentos memoráveis.
VEREDITO
Posso facilmente descrever a arte como uma forma de criação, produção de novas ideias e perspectivas. Existem inúmeras visões artísticas, mas cada uma delas possui a intenção de representar simbolicamente a realidade, sendo o resultado de valores, experiências e sensações de um determinado momento. Para mim, o artista é um indivíduo que possui o conhecimento intuitivo, permitindo criar a partir de sua sensibilidade. O artista precisa ser capaz de crir a partir do imaginário, do que não existe. Aliando sua intuição como sua capacidade de criar, o artista consegue produzir algo que afeta seu espectador e toca seu coração.
"Inert" é a mais clara definição do que é uma obra de arte. Intenso, magnífico, repleto de simbologias que transportam o ouvinte para lugares pouco conhecidos, este é um disco que representa bem a poética que existe no underground. Uma doce e cadenciada valsa conduzida sorrateiramente pela morte, tendo este disco como trilha, carregada de dor, desesperança e melancolia.
Este disco que não é recomendado para qualquer pessoa, pois poucos são os que se atrevem a desbravar as comprimidas trilhas do pensamento, já que é muito mais fácil caminhar pelos largos e cômodos caminhos da mediocridade. Para o filósofo Walter Benjamin, a obra de arte é um exercício de aproximação da Verdade. E a obra-prima, uma aproximação do mais profundo Eu. Não há definição melhor para “Inert”.
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