Gênero: Alternative Rock, Hardcore
01 A Gente Conhece o Fundo do Poço
02 Se Eu For Eu Vou Com Você
03 Fala Que Ama
04 Essa Vida Ainda Vai Nos Matar
05 Diga Parte Final
06 Canção Pra Quando o Mundo Acabar
07 Camadas
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Após uma primeira parte de um disco intenso, com batidas contagiantes e composições pungentes, respectivamente referenciais ao caminho traçado pela banda ao longo de seus mais de 25 anos de carreira, Eu Nunca Fui Embora – PARTE 2 continua a percorrer essa jornada sentimental e nostálgica pelo legado da Fresno. Com sete faixas, o disco finaliza uma redescoberta intimista e melódica por toda a discografia do grupo, iniciada no primeiro semestre de 2024, com Eu Nunca Fui Embora – PARTE 1. Na sua continuação, Lucas Silveira (vocal), Gustavo Montovani, ou Vavo (guitarra), e Thiago Guerra (bateria) exploram novas sonoridades, mesclando elementos clássicos a experimentações ousadas com o pop, que junto ao emo, formam uma balada melódica calorosa e reflexiva.
Para divulgação dos dois discos, a Fresno iniciou turnê no começo deste ano, com o lançamento da primeira parte do álbum e, pouco antes do lançamento do segundo, anunciou mais datas. A tour percorre o país inteiro e, em fevereiro de 2025, ela chega na Europa, em Portugal e na Irlanda. Como feito na PARTE 1, as listening parties também foram confirmadas e realizadas por todo o Brasil, o que reforçou ainda mais a promoção do novo trabalho do trio. Uma fusão explosiva de ritmos dançantes e letras profundas, A Gente Conhece o Fundo do Poço inicia o álbum a todo vapor, com ritmos de uma balada oitentista e com o pé no synth-pop. Com riffs de guitarra emocionantes, a canção é uma viagem de nostalgia e parece ter sido feita para superar fases difíceis, sendo uma forma de conforto.
A segunda faixa é um marco na história da cena emo brasileira. Em Se Eu For Vou Com Você, Fresno e NxZero unem forças para criar um momento apoteótico em volta de suas carreiras. A parceria, que simboliza mais de duas décadas de amizade entre as bandas, é um hino para todos aqueles que cresceram ouvindo seus sucessos. Nela, o emo se molda com o indie, com batidas leves e vocais agudos amarrados ao redor da mutualidade emocional. A letra explora a ideia de que o amor é um bálsamo para as feridas vivenciadas. “Não vou embora pois não é hora de te perder. Eu nunca fui embora, só se for com você”, o verso se repete diversas vezes enquanto o instrumental vai se tornando cada vez mais explosivo ao final da canção. Com esse refrão, a letra também complementa de Eu Nunca Fui Embora, do ENFE – PARTE 1.
Como um equilíbrio, Fala Que Ama envolve os ouvintes em um pop dançante já determinado no início do disco, sonoridade vista em A-ha, Crowded House, The Outfield e outras bandas da época. Em seguida, na faixa Essa Vida Ainda Vai Nos Matar, a Fresno reflete sobre os desafios do artista na estrada da música. A parceria com o Dead Fish, uma das bandas mais importantes do hardcore nacional, faz da música a mais pesada do disco, com gritos firmes, não deixando a identidade indie e oitentista do disco, mas dando espaço para a essência da Fresno, consolidada em Ciano (2006), Redenção (2007), Infinito (2012) e seus trabalhos mais antigos. A presença marcante de Rodrigo Lima nos vocais reforça a conexão entre as duas bandas, que se conhecem desde os tempos dos festivais da cena underground.
A trilogia Diga encontra seu desfecho com Diga Parte Final, faixa que revela a paixão de Lucas pela música e a busca constante por novos desafios e explora a angústia de um relacionamento à beira do fim, com um eu lírico desesperado por respostas e perdão. A escolha de Filipe Catto para interpretar a parte final da história de Diga foi bem pensada, visto que a voz marcante dela inspirou Lucas a criar um final à altura das expectativas dos fãs. A composição conecta pessoas e histórias para além dessa composição, dado as faixas anteriores atreladas: Diga, Parte 1 e Diga, Parte 2, que vão do romantismo a angústia. Diga Parte Final traz esses dois sentimentos à tona de forma enérgica e contagiante, com elementos mais leves em meio a sintetizadores e solos de guitarra no início, e riffs e batidas explosivas ao final. Essa dualidade surpreende e fecha o marco criado pelas três músicas com chave de ouro.
Em Canção Para o Mundo Acabar, o que é leve quase flutua. A voz de Lucas é quase isolada em meio a batidas, sintetizadores e toques suaves de guitarra. A canção se acelera nos últimos minutos, com a voz dele ficando mais forte e tomando mais firmeza. Por outro lado, os instrumentos tomam impulso também, como se houvesse perdido o controle. É o tipo de faixa que não há como não se arrepiar. Ela reflete sobre a solidão em meio a turbulências ao redor. “Tem horas que eu não tenho ninguém. Cheio de gente ao meu redor”, Lucas canta e repete nos refrões.
A PARTE 2 do ENFE se encerra com Camadas, com uma sensação de fim de festa, com um pouco de melancolia e um pouco de entusiasmo. A faixa é uma versão da música já lançada no ENFE – PARTE 1, mas aqui conta com a parceria Chitãozinho & Xororó, o que a torna mais vibrante e animada do que a última versão.
O disco continua a versatilidade e experimentação exploradas na PARTE 1. A Fresno, no entanto, começou a pautar sua sonoridade e marca com outras nuances um pouco antes, como é explícito em Sua Alegria Foi Cancelada e Vou Ter Que Me Virar, que além de terem a presença do emo e do hardcore, também transbordam elementos mais cautelosos, como sintetizadores calmantes, riffs de guitarra mais intensos e batidas marcantes e não tão frenéticas. Essa vertente sonora simpatiza com o pop e com o indie, o que aqui, em Eu Nunca Vou Embora – PARTE 2, se mostra mais do que consolidado que o trio pode inovar o quanto quiser sem perder a sua essência. O emo está presente em todas as faixas, mesmo que minimamente em algumas, ele mostra a melancolia, a introspecção e a firmeza dos instrumentos que ora despertam de uma calmaria imposta por uma balada nostálgica e típica dos anos 80, daquelas que o otimismo e o calor não se perdem e parece não ter fim. Os dois álbuns se completam com os sentimentos aflorados junto de instrumentais bem trabalhados que se desenvolvem durante as duas obras, de forma continua. Mais do que isso, o ENFE – PARTE 2 finaliza a era presentando fãs de longa data, o que é nítido em suas referências e a essência da Fresno pulsante por todo o trabalho.
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