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quarta-feira, 16 de março de 2022

Versus A.D. - Primitivo Silêncio - 2008 - Download

 

Gênero: Progressive Rock, Hard Rock

1 Black Book Of Conflicts
2 Casillero Del Diablo
3 Vesperax
4 Restart
5 Ignition Cells
6 Bones In Traction
7 Transcortex
8 Beginning Of The End

Link 01



O power trio goianiense Versus A.D., formado por Luis Maldonalle (guitarra), Paulo Martins (bateria) e Julian Stella (baixo), lançou recentemente seu debut album, chamado Primitivo Silencio. O que escrevi logo abaixo é fruto de duas audições que fiz do álbum e convido você a acompanhar esta pequena análise e conhecer um pouco do trabalho desta banda.


Tudo no álbum Primitvo Silencio é intencional. Seu título, sua arte gráfica, sua estrutura e musicalidade... enfim, tudo foi meticulosamente pensado pelos membros da banda - provavelmente para garantir a coesão da obra. No encarte há um prólogo, com a definição das palavras "primitivo" e "silêncio" e um texto que explica o formato e o sentido do álbum. Na verdade, Primitivo Silencio é a primeira parte de uma trilogia, ou seja, de uma obra que foi dividida em três partes; as outras duas partes - e consequentemente, os dois próximos álbuns da banda - são Plastic Age e Paradizo (cujas produções já estão em andamento). Segundo o autor do prólogo, Renzo Nery, o álbum "convida o ouvinte a se entranhar sensorialmente em intenções musicais que remetem à angústia, escravidão social, escapismo, mecanização da sociedade industrial e à psique humana". Então surge a pergunta: como transmitir todas essas sensações através de sons, de música? Fugindo um pouco da parte filosófica da pergunta e focando apenas na musicalidade, é possível dizer que Primitivo Silencio permite ao ouvinte realmente viajar no seu som devido à sua mistura de estilos.


A sonoridade do álbum é algo muito diferente do que se ouve por aí atualmente. Em certos momentos você "bate-cabeça" sem parar, em outros viaja nas partes virtuosísticas, e em outros curte uma leve depressão, com certa dose de melancolia e - por que não? - paz interior, como se determinados trechos entrassem na sua mente como mantras. Parece "viagem", mas não é. Se observarmos as influências dos músicos da banda, encontraremos jazz, heavy metal, blues, música indiana, espanhola e brasileira, e muito mais; logo, é cabível que a mistura de tantas coisas diferentes resultem em algo diferente, que por sua vez, causa sensações diferentes em quem ouve.


As músicas do Primitvo Silencio são longas (a menor tem 5min38seg) e possuem estruturas rítmicas, melódias e harmônicas complexas. Essa complexidade é observada melhor no aspecto macro, tomando a música em sua totalidade, já que cada composição possui o que eu chamo de divisões ou "sub-partes", e cada divisão possui suas próprias características rítmica, melódica e harmônicas. De forma geral, o que se nota é uma mistura entre Heavy Metal e Jazz, mistura essa temperada por elementos de World Music. Frases em compasso simples são sucedidas por outras em compasso composto, com acentuações típicas de jazz, gerando as famosas "levadas quebradas". Aliás, do jazz foram herdados o uso de acordes dissonantes em riffs e levadas de bateria e baixo irregulares, porém, não muito ousadas, como de praxe são. Tudo servindo de base aos riffs "jazz-metal" do guitarrista Luis Maldonalle, que neste álbum deixa mais evidente sua veia harmônica e, principalmente, melódica, através do uso de acordes dissonantes dedilhados, modulações definitivas e passageiras para tons inesperados. O destaque do guitarrista está mesmo é nos solos, mais melódicos e menos racionais, não decepcionando nenhum fã de Jason Becker, Marty Friedman e Greg Howe. Neles, houve espaço até para temas brasileiros, como na música "Bones in Traction", na qual um dos solos foi finalizado em cima de uma melodia criada em modo mixolídio, característico da música nordestina e bastante usado no Baião.


Enfim, eu poderia ficar aqui por vários dias analisando os diversos aspectos do álbum tamanha é sua riqueza. Como não vou fazer isso (risadas) vou deixar para você, leitor, a tarefa de ouvir o Primitivo Silencio e tirar suas próprias conclusões. Pode até parecer se tratar de um álbum para músicos, mas não é. Pelo contrário, está cheio de feeling e sonoridades diferentes e familiares para qualquer pessoa, sem ser massante ou chato.


Eu o recomendo. Vamos agora aguardar as próximas partes dessa trilogia...

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