Gênero: Progressive Rock
CD 01
1. Mysteries the Night Hides Rerecorded
2. God Is Love, Not Fear
3. Last Stand Rerecorded
4. Raped Rerecorded
5. All Those Minds Rerecorded
6. Let There Be Light Rerecorded
7. Hopeland Rerecorded
8. Moth
9. What I'm Looking For Stripped Down
10. Big Brown Eyes Acoustic
11. Any Blessing on My Soul Piano Version
12. I'd Do It All Again for You Acoustic
13. The Fall Piano Version
14. Z.3.R.O. Demo
15. Vampires Piano Demo
16. Zebathy (The Mistress of Darkness) Demo
CD 02
17. Ugly Days Demo
18. N.I.L.E. Live
19. Shall We Dance? Live
20. Hello Stranger Live
21. Imperfections Live
22. The Night Stairway Live
23. The Outlaw's Journey Live
24. Blond Hair, Baby Face Live
25. The Long Run Demo
26. Don't Fall for Me Demo
27. Potsdamer Platz Demo
28. The Architect Demo
29. Flames of Ambition Demo
30. So Sad Demo
31. Come Back Home Demo
32. May It Be So, Blessed Creatures Single Edit
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Aos 50 anos, com mais de três décadas dedicadas ao heavy metal e à construção de uma das trajetórias mais consistentes do cenário independente brasileiro, Fabiano Negri decide abrir seu acervo íntimo e entregar um documento sonoro raro. The Basement Trunk reúne 32 faixas que, ao mesmo tempo, soam inéditas e familiares para quem, como eu, acompanha sua obra há muitos anos.
O álbum é composto por demos, gravações ao vivo, canções esquecidas e registros nunca antes divulgados, todos retirados de um arquivo pessoal guardado por décadas. Esse conjunto funciona como um testamento afetivo, um recorte arqueológico das múltiplas fases criativas de Negri, onde cada faixa opera como um fragmento de memória recuperado, limpo da poeira do tempo, mas preservando suas imperfeições estruturais.
O ponto crucial é que The Basement Trunk não se apresenta como uma coletânea de sobras. O disco se comporta como uma exposição curada com rigor emocional. Em vez de organizar cronologicamente ou tentar criar uma narrativa artificial, Negri deixa as gravações respirarem na sua ordem própria, permitindo que o ouvinte perceba o atravessamento entre épocas distintas, como se as canções conversassem entre si através de décadas.
Quando Negri revisita essas gravações antigas, ele não está simplesmente relançando demos. Ele está criando um encontro entre o eu de 2025 e todas as versões anteriores de si mesmo que ficaram suspensas nas fitas, nos HDs e nos arquivos esquecidos. É uma espécie de autoexame público, onde o artista admite que a passagem do tempo não é apenas técnica. É emocional.
Esse processo ganha um peso ainda maior porque o disco se desloca entre duas perdas que se tornaram estruturantes: a morte da mãe em 2020 e a morte de Ozzy Osbourne, seu maior espelho musical, em 2025, meses antes do lançamento. As 32 faixas, mesmo as mais distantes no tempo, acabam ressignificadas por esse contexto. As canções inéditas, especialmente, surgem como pontos de tensão dentro desse grande inventário de vida e morte.
“Moth” é o epicentro emocional do álbum. Originalmente lançada em estúdio no disco Reborn (2021), ela retorna aqui num registro que soa mais cru, mais exposto. Negri parece não ter se conformado com a primeira versão ou talvez o luto não estivesse suficientemente decantado naquele momento.
A letra funciona como um diálogo direto com a mãe.
O que chama atenção é o título faz um jogo duplo. A palavra está escrita “Moth”, não “Mother”. O “-er” final foi arrancado. Corte seco. Como quem começou a escrever “Mother” e não conseguiu terminar. Esse “er” interrompido é o luto em estado puro: a sílaba que não sai, a palavra que fica pela metade, o nome que a garganta não consegue mais pronunciar inteiro.
No polo oposto está “God Is Love, Not Fear”, a única composição em que a ferida realmente se abre para um gesto de cura. A base é uma demo de 2009, mas Negri acrescenta a guitarra do filho, Ian Absurd, que entra como um fio de luz atravessando um ambiente fechado. É a única faixa em que o peso se dissolve, onde a herança emocional deixa de olhar para trás e começa a apontar para o futuro.
As outras músicas se organiza, como um campo de ecos: riffs revisitados, letras que reaparecem como variações de temas anteriores, gravações ao vivo onde o público quase não existe, como se a própria música bastasse a si mesma. Há faixas que operam como camadas de negação, outras como ensaios de aceitação, outras ainda como repetições compulsivas de motivos que Negri já explorou mil vezes. No conjunto, o álbum desenha um ciclo completo do luto que vai da exposição da dor até a tentativa de reorganizar o caos interno.
The Basement Trunk é, portanto, menos um lançamento e mais um gesto de honestidade radical. Não tenta parecer grandioso, não tenta construir um monumento para si mesmo. Fabiano Negri entrega algo mais raro: uma escuta do próprio passado sem filtros. O resultado é um documento que fala sobre música, mas também sobre identidade, permanência e sobre o que significa envelhecer continuando a criar.
No caso de Negri, isso ganha um sentido particular: ele segue produzindo há mais de 30 anos, atravessando mudanças de cena, perdas pessoais, transformações estéticas e desânimos que teriam silenciado muitos outros. O que realmente impressiona é essa resistência em continuar, essa insistência quase teimosa em manter a criação viva apesar de tudo, como se a própria constância fosse parte essencial da sua arte.

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