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terça-feira, 23 de abril de 2024

Tosco - Agora É A Sua Vez - 2023 - Download

 

Gênero: Thrash Metal, Hardcore

1. Intro
2. Mais Uma Vez
3. Issaqui Não Tem Jeito
4. O Brasil E O Crime
5. Hellvetia
6. O Monstro
7. Nada Tá Bom
8. A Verdade
9. Casa De Nóia
10. Tropa Z
11. Qualquer Ajuda
12. Guerreiros Do Metal

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Brincando com o título do novo álbum da banda Tosco, mais uma vez é gratificante poder divulgar um trabalho a qual foi garimpado, descoberto e conferido de perto. Enfim, cá estamos com a finalidade de apresentar mais um lançamento do ano vigente. Trata-se de “Agora É A Sua Vez”, terceiro álbum do representantes do litoral paulista, que carrega consigo a alcunha de banda que esbraveja o que pensa sobre os descasos do país e do mundo, contagiando os adeptos com um som despojado, ríspido, quebrado e violento da forma mais afiada que se possa imaginar.


Antes de mais nada, é bom citar as informações técnicas que envolvem esse novo trabalho e também referente aos discos anteriores, que fazem do Tosco uma das gratas revelações dos últimos anos no cenário underground. Afinal, a banda iniciou suas atividades em 2017 na cidade de Santos, litoral de São Paulo. O Tosco pratica algo voltado para as ramificações do Thrash Metal e do Hardcore, passando pelo Crossover e culminando em um Thrashcore qualificado. Assim sendo, vamos ao informativo e a análise na sequência para ver se as engrenagens continuam funcionando alinhadamente.


Lançado de forma independente no dia 22 de julho, “Agora É A Sua Vez” completa a primeira trinca de álbuns do Tosco, oferecendo a chance de firmamento da banda na chamada cena underground. Não que seja uma regra absoluta a consolidação através do terceiro disco, mas o equilíbrio costuma surgir a partir de então. Ainda sobre o novo full length, o principal single atende por “Hellvetia” e será comentado a seguir. Mas, antes de mais nada, vamos ao lineup da moçada! Começando com o vocalista Osvaldo Fernandes (ex-Repulsão Explícita), passando pelo guitarrista Ricardo Lima (ex-Vetor, ex-Chemical Disaster, atual Scars, Tailgunners, Putrid Hope), o baixista Carlos Diaz (ex-Vulcano, ex-Hierarchical Punishment e ex-Chemical Disaster), e fechando o quarteto, o baterista Paulo Mariz (Sacred Curse, ex-Coração De Herói, entre outros).


O álbum foi produzido por Paulo Mariz e Ivan Pellicciotti, ex-baixista da banda e também produtor no O Beco Estúdio. O debut “Revanche” (2018) e “Sem Concessões” (2020), formam a discografia atual do Tosco, que também conta com EP “O Brasil É O Crime” (2022) e a remixagem de “Revanche”, de 2022, intitulada “Revanche (Remix)”. Jean Michel (Metal Church, Queensryche, entre outros grandes nomes) é quem assina a arte de capa, enquanto a mixagem e masterização também estiveram nas mãos de Ivan Pellicciotti no O Beco Estúdio, em Curitiba. Assim como aconteceu no Thrash disConcert, o início do percurso é igual por aqui. Tanto o show quanto o disco começam com essas duas faixas. Isso enriquece o trabalho de tal forma que o brilho das canções aumenta e fixa, tornando-as ainda melhores do que já aparentavam.


Em primeiro lugar, os ruídos da “Intro” colocam um caldo denso de mistério e expectativa para o que está por vir. Certamente, é o encaixe ideal para a apresentação de “Mais Uma Vez”, em alusão ao nome do álbum, para a inauguração da barulheira, na qual acontece de maneira direta. Os acontecimentos remetem profundamente a um grande clássico contemporâneo do Korzus, a faixa “Discipline Of Hate”, do álbum homônimo de 2010. Decerto, o riff principal é um convite para tal lembrança magnífica, embora a canção não possua o mesmo formato que a música da veterana banda paulistana. Há blast beats, porém o estilo é calcado no Thrash, sendo facilmente observado juntamente às linhas excepcionais do guitarrista Ricardo Lima. A busca e apreensão acontece de maneira rápida e violenta, onde os traíras deixaram o vacilão marcando bobeira e a lei comeu solta no certame. Restará aos advogados provarem inocência e decência do suspeito. Não foi avisado para esconder a mala com mais de um milhão e acabou sendo pego com a “boca na botija”.

EIS A INDAGAÇÃO:
“CIDADÃO, CHEGA AÍ!
DE QUEM É ESSA GRANA? (NÃO SEI!)
É DA EDUCAÇÃO? (NÃO SEI!)
DE QUEM É ESSA GRANA? (NÃO SEI!)
É DO HOSPITAL? (NÃO SEI!)
DE QUEM É ESSA GRANA? (NÃO SEI!)
É DA SEGURANÇA? (NÃO SEI!)
DE QUEM É ESSA GRANA? (NÃO SEI!)
É DA RACHADINHA? (NÃO SEI!)”

De quem é essa grana? Eles nunca sabem. É para a educação? Sabem de tudo, mas dizem não saber de nada. Porém, o que mais intriga é que isso vai de encontro a um dos diversos e constantes descasos da nossa política assassina imbecil, como aquele caso do monstro Geddel Vieira Lima, encontrado com mais de 50 milhões de reais em dinheiro vivo dentro de malas. Ah, se fosse ele fosse da periferia e tivesse roubado uma bala Dimbinho…


Logo na sequência, temos o segundo golpe de marreta biônica com “Issaqui Não Tem Jeito”, tendo em seus versos dizeres bastante atuais e reflexivos sobre a sociedade doentia e cada vez mais ignorante com toda a certeza. Aliás, quando vemos caras barbados com idade para serem responsáveis de fato, defenderem seus políticos de estimação, é como se esse tipo de ser tivesse dado um tiro espiritual na aura de seu próprio cérebro e perdido completamente a razão no plano carnal. Você pode ter suas escolhas, pensar do seu modo, mas coloque na sua caixola de uma vez por todas, que nenhum político presta, o único inimigo de todo político somos nós, o povo, e que todo político só quer saber de duas coisas nossas: CPF e título de eleitor.


Com efeito dessa dor que não estanca de jeito nenhum, pois essas pessoas amam essa constante hemorragia do nosso país, a sonoridade apresenta um cardápio bastante áspero e agressivo. De fato, essas são características que permeiam o disco, com o propósito de exaltar seus protestos e relatos em letra. Surpreendentemente, temos riffs impactantes que são regados pelas águas dos pedais e caixa do kit seminal de Paulo Mariz. Os repiques e emendas evidenciam o lado Hardcore da coisa, sem perder o prumo nem a prosa. Contudo, as nuances presentes tornam os vocais de Osvaldo Fernandes ainda mais presentes, além de serem estridentes por natureza. …O crime compensa para quem for famoso e cometer atos grandiosos de tão chocantes, com o intuito de gerar biografias, livros e filmes sobre o autor da desgraça.


Em terceiro lugar, é a vez daquela que batiza o nome do único EP lançado pela banda até então. “O Brasil É O Crime” retrata bem a situação da nossa sociedade sempre mergulhada em desgraça. De forma cadenciada, ela ataca os espaços reservados para se ter a sonoridade ideal. Dessa forma, os pedais duplos de Paulo Mariz, somados aos acordes sustentados por guitarra e baixo, tornam o refrão mais direto e presente. Embora, as linhas e partes seguintes sejam sustentadas de maneira formidável pelos acordes e toda a ala percussiva. A ótima captação, distorção e timbragem, juntamente com o desempenho de equipe, resulta em uma audição tranquila e ampliando a vontade de colocar em modo repeat. Em resumo, a sirene da polícia ao final da música é um atrativo à parte para o enredo.

“…ESSE VÍDEO É UM MANIFESTO POR TODOS NÓS, CIDADÃOS BRASILEIROS, QUE CONVIVEMOS COM O CRIME DIARIAMENTE EM TODAS
SUAS FACES CRUÉIS…”

Na quarta posição da lista de armamento bélico sonoro, temos uma canção que conta com uma participação bastante conhecida nas entranhas do underground mundial. Estamos falando do guitarrista do Nasty Savage, Dave Austin, e sua participação com a finalidade de reforçar o poderio do single “Hellvetia”. Todavia, a letra da música fala sobre o incessante consumo de crack na área centra da capital paulista. Uma lástima e ao mesmo tempo um descaso, que desde então, nunca foi solucionado de maneira correta e, para falar a verdade, ninguém quer resolver essa parada. Certo político de calça colada tentou resolver na base da mangueirada com água gelada de madrugada. Em suma, é isso o que acontece quando um político toma a frente de determinada situação. Ou seja, só acontece merda. Viciados e moradores de rua sofrem horrores nas mãos de péssimas atitudes desses vermes insolentes.

DAVE AUSTIN COMENTOU A SUA PARTICIPAÇÃO:
“OSVALDO ME APRESENTOU A BANDA HÁ ALGUNS ANOS E DESDE ENTÃO ME TORNEI FÃ DECLARADO. ADORO A MANEIRA COMO OS VOCAIS SÃO FEITOS EM PORTUGUÊS, EU REALMENTE APRECIO ISSO! MÚSICA MUITO BOA, POR ISSO FIQUEI FELIZ EM PARTICIPAR DELA! FOI UM PRAZER ENORME PARTICIPAR DESSA MÚSICA (“HELLVETIA”). SE FOSSE APENAS UMA BANDA ALEATÓRIA, EU NÃO TERIA FEITO.”

OSVALDO FERNANDEZ, VOCALISTA DO TOSCO, COMPLEMENTOU:
“ESSA MÚSICA ERA PARA TER SAÍDO EM NOSSO PRIMEIRO ÁLBUM (“REVANCHE”), MAS ACABOU SENDO DEIXADA DE LADO SEM MOTIVO ALGUM (RISOS). TALVEZ POR SEMPRE COMPORMOS MATERIAL NOVO ACABAMOS ESQUECENDO DELA. MAS JUSTIÇA FOI FEITA E, JUNTO COM A LETRA QUE FALA DESSE INFERNO QUE É O CENTRO DE SÃO PAULO, ONDE EM CADA CANTO TEM UM USUÁRIO DESSA MERDA (CRACK), É UMA CACETADA.”


O single em evidência provoca um assalto nuclear na cabeça do ouvinte, com o intuito de explorar as áreas inutilizadas de seu cerebelo para inserir os versos importantes sobre o descaso quanto ao uso exacerbado de crack no centro de São Paulo. Destaque para a participação de Dave Austin no segundo solo de “Hellvetia”, ampliando o poderio marcante desse arsenal de guerra proferido pelo Tosco mais legal da tosquice tocada. Em meio à pancadaria sonora, entendemos que todos aqueles são…


Na caminhada do demônio, temos uma levada contínua que remete a uma mistura bastante intrínseca entre “We Will Rise” do Arch Enemy (“Anthems Of Rebellion”, 2003) e uma boa dose de Testament, sendo este último mais evidente nos momentos de maior peso da faixa e muito por conta do álbum “The Gathering” (1999). Assim sendo, “O Monstro” caminha livremente e provoca todo o tipo de caos sonoro, tanto mais acelerado quanto mais cadenciado, sem que se perca de vista. A intro grooveada até os dentes, entrega aos adeptos uma sonoridade mais densa, porém cortante. Quando o surge o refrão, o teto da arquitetura desaba, tamanha a devastação causada pela bateria de Paulo Mariz, enquanto a guitarra de Ricardo Lima mistura o lado mais thrasher com a mistura resultante no Thrashcore.


“Nada Tá Bom” representa o braço curto de muitas pessoas e setores do país. Nada presta, mas quem muito reclama não realiza nada. Não planeja nada, não busca modificar nem melhorar nada. Não apresenta qualquer tipo de solução. Ou seja, acaba por se tornar mais um estorvo, então. Que “A Verdade” seja dita, para acabar com os falsos argumentos de quem nunca entendeu em que pé está a situação e que caráter não se compra, mas o inseto rastejante não sabe. Depois que a machadada sonora acontece, o sangramento da vítima é iminente, alimentando a alma dos músicos e de quem gosta de um som mais “dançante”, por assim dizer. Alguns tons de Slayer e de Chakal são colocados à mostra e enriquecem ainda mais a obra.

“A VERDADE DÓI
A VERDADE CORRÓI
A VERDADE TE MOSTRA
A VERDADE CONSTRÓI”

Os solos são breves, porém muito bem elaborados e encaixados nesse capítulo musical. Finalizando essa parte, temos o destaque para a mágica que a verdade traz ao ser dita a plenos pulmões, desintegrando a alma penada do leproso repugnante. É também uma casa, mas com um clima diferente. Embora também possua gente falando asneira, essa outra casa possui maiores problemas. A “Casa De Nóia” entra em cena com dezoito pés na porta através dos pedais duplos e todo o arsenal de guerra oferecido, então. Sumiu o ventilador e só tem aspirador. É assim que funciona, pois tudo é vendido a troco de pedra ao viciado. O estrago está feito ali em frente à quadra onde todo mundo joga bola. Tudo é substituído por essa merda, enquanto a lei fecha os olhos, sabendo de seu amplo envolvimento com todo esse caos. O ritmo utiliza de todos os fatores reunidos a seu favor, seja nos momentos mais densos, seja nos mais insanos. A sustentação feita pelo baixista Carlos Diaz, coloca um tempero de sua própria ex-banda, o lendário Vulcano, em cena. O trecho final reúne artifícios tanto de Korzus quanto de Slayer, sendo o gigante americano, influência até para quem não curte o som dos caras. Afinal, “hater de Slayer nem é gente”, já diz o aviso.


Invadir o território alheio é a moda do momento. Aliás, isso nunca saiu de moda, além do próprio controle das grandes empresas que movem o mundo. A “Tropa Z” representa o princípio de pacificação entre as províncias. A pacificação sempre vem com a desculpa de que não se mata civis, sendo que estes são os que mais sofrem com as consequências de uma guerra. A bateria faz um rasgo no solo, enquanto guitarra e baixo lideram as tropas para que destruam todos os inimigos que estiverem à sua frente. O resultado do estrago acaba por ser fascinante ao adepto de som pesado, e que também serve de fator condutor para dois dos álbuns menos comentados do Ratos De Porão, como “Homem Inimigo do Homem” (2006) e “Século Sinistro” (2014).


Finalizando o novo trabalho do Tosco, temos a hegemonia exaltada do contrabaixo de Carlos Diaz em “Qualquer Ajuda”. A lentidão proposital oferece ao apreciador uma atenção redobrada para a letra declamada por Osvaldo Fernandes, que insere frases sobre o discurso elaborado pelos pedintes, que te pedem no ônibus, no trem, na porta de algum estabelecimento, na praça, em qualquer lugar… Lá está alguém que precisa de algo, água, abrigo, cobertor, respeito, atenção, quem sabe um amigo… O galope do baixo transforma os feitos e solos de guitarra em lava fervilhante e incandescente, que são derramados aos montes nos tímpanos de quem os ouve. A impressão que fica é a de que essa faixa poderia figurar um pouco antes no tracklist. Dessa forma, poderia surtir melhor efeito, já que sua sucessora é um cover de um dos grandes hinos do nosso Metal.


E não poderia ser diferente, pois a apoteose do álbum teria que ser concluída com essa grande homenagem. A escolha foi assertiva nesse caso. O hino do Korzus chega para celebrar o trabalho digno de uma banda que corre sem parar em busca de seu espaço no circuito do sagrado bueiro. “Guerreiros Do Metal” traz a participação ilustre do guitarrista Silvio Golfetti, que esteve à frente do Korzus por muitos anos. Silvio é um dos grandes guerreiros do Metal e participa no segundo solo da clássica canção. O Tosco é também um dos guerreiros do Metal, batalhando como poucos por aí afora. E você, é um guerreiro do Metal? Ou um metaleiro amassador de sofá?


Embora seja uma sonoridade bastante incisiva e latente, o ritmo não é puramente frenético, ocasionando várias ligações com elementos mais vagarosos, com relação à toda estrutura forjada no aço malevolente. A proposta tanto nas letras quando no próprio som faz com que tudo se interligue de maneira inteligente, oferecendo ao ouvinte uma viagem por territórios primos. Caso percorressem somente um caminho musical, o som seria mais visceral, assim rimando o parágrafo. Talvez a questão esteja na fórmula utilizada, ao qual torna cada refrão mais lento com relação ás bases. Isso também não é 100% verdade, muito por conta das variações dentro das canções. O fato é que tudo funciona e nada fica com a sensação de sobrepeso. Apenas fico imaginando se houvessem menos levadas voltadas ao Hardcore.

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