Pages

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Flesh Grinder - Nomina Anatomica - 2016 - Download

 

Gênero: Grindcore, Death Metal

1. Intro Lazario
2. Masseration Larvae
3. Graveyard Meat
4. Injuries
5. Putrilagem
6. Similia Similibus Solvuntur
7. Unsatisfactory Doctors Report
8. Fetuses Forming Bizarre
9. Appendicular Pecculiar
10. Soon After Death
11. Banquete Funerário
12. Dementopia

Link 01
Link 02

LISTEN



Santa Catarina é uma terra de diversos nomes que compõem a comunidade da música extrema nacional. Entre vários titãs, guardiões de ferro adormecidos e soldados em repousos, além de zumbis que esperam para despertar, existe um grupo de necrofílicos que atormenta e se torna mais do que uma lenda etérea aos ouvintes do metal extremo. Estamos falando dos camaradas de guerra da Flesh Grinder, uma banda da safra de 93, uma era em que ainda muitas dessas figuras musicais mencionadas acima estavam em campo e outras começavam a surgir.


Flesh Grinder é uma das poucas bandas que se destaca no cenário Gore/Splatter sulista, ao lado de Zombie Cookbook, Offal (excelente banda que faz jus a repugnância sonora), Anal Vomitation (banda que tá entrando no cenário com material na mão e tem um trampo promissor) entre outras. Afinal, esse cenário é escasso, poucas bandas se destacam devido a receita musical visceral e suja que deve ser mantida. É difícil garimpar entre riffs uma possibilidade de encaixar dentre tanta carniça um ou outro detalhe pra tirar o chapéu.


Apesar de no ano de 2017 já terem soltado um novo split com a banda mineira Expurgo, o trabalho é o último Full depois de seis anos do álbum Crumb’s Crunchy Delights Organization e 3 anos do último EP Necrofiles.


Afinal, o que há de tão bom em Flesh Grinder produção?
Eles são um dos poucos precursores do Grind\Splatter numa região de metal que extremo que ainda tinha cabeça voltada pro death melódico e pro thrash.
O reconhecimento que a banda conquistou com um estilo musical tão restrito é admirável.


Apesar de pura podridão lírica e sonora, existe Q U A L I D A D E no trabalho. É feito por quem realmente gosta.

Então vamos lá. O álbum pode ser encontrado logo abaixo. Vamos para a resenha.


1. Intro Lazario
Sombria, começa com um impacto meio a sonoridades que lembram breves tempestades, cantos clericais, que são interrompidas algumas vezes pela ânsia da banda em se transformar na sua forma monstruosa. Ela entra, e não entra com pouco. As linhas técnicas de um death um death técnico old school que depois puxa para uma levada totalmente gore “a la” Rompeprop, Na verdade, tal banda lembra muito nas passagens do Flesh Grinder em ter a destruição, o caos, a nojeira misturada com um groove e uma distorção crua. A introdução termina com um cântico inesperado pego provavelmente de algum filme, parece algo de ninar, e ao fundo, dá para se ouvir os pequenos grilos e sapos da noite o que talvez seja realmente de um filme. Mas as luzes se apagam e somente os brilhos dos olhos dessa criatura malevolente que tomou forma irão iluminar o morticínio que virá a seguir.


2. Masseration Larvae
Quase como uma continuação da introdução anterior, mas agora com segmentos mais retilíneos e precisos, deixando o riff massivo e visceral, do jeito que o Gore PRECISA ser. Quando o vocal entra, segura as pregas da calça porque você vai se borrar, a mistura perfeita de um gutural aberto mediano com grave em pitch voice (imagino que seja). A festividade carnal começa, intermediada por certas passagens repletas de blast beat. Mas a música não perde sua verdadeira essência de ser cadenciada, mesmo tendo tais frases para entrar em contraste com a idéia da música. Esse trabalho de pergunta e resposta, a divisão de vocais, ficou excelente, e holofotes para esses riffs um tanto melódicos que precedem o fim da música. A música vai terminando em um seguimento um tanto quebrado a primeira escuta, mas surpreendente para os fãs da casa velha da banda. Finaliza com a melhor identificação sonora para o que é podre: moscas.


3. Graveyard Meat
É perceptível como a banda tentou investir nessa mesma receita de não trazer o noise para música de maneira simplória, sem pé nem cabeça. A banda sabe onde se encontra, começa e termina dando até um tesão maior em apreciar o trabalho. A música ali pelo verso trabalha em riffs mais básicos sempre na famosa linha de bateria KVLT, dessa vez, mesurando melhor a presença de ambos os vocais. Após você se consolidar com a ideia principal da música, ela muda seu caminho para uma chamada caótica, onde a guitarra segura uma única nota e o restante da instrumental cresce como se estivesse prestes a explodir. A banda colide aos ouvidos, destruindo o lugar, seguindo da maneira como foram chamados. Me soa como um caos nuclear, algo que me remete muito a tenebrosidade cósmica e tentacular, única e espasmante de Azathoth. Por que me veio a cabeça? Não faço ideia. E pela primeira vez no álbum, a música dura um pouco mais de 1 minuto.


4. Injuries
A banda entra numa chamada um tanto mais melódica. Ela explode em meio a repulsividade num blast que é mais seco e garante mais velocidade nos pés, não perdendo a melodia original de sua introdução. Os vocais berram de forma quase inteligível (apesar que essa é a ideia do gênero). Quando o andamento troca nos riffs, a tempestuosidade mantém até chegar a um possível refrão que a levada cadencia com acordes mais abertos e trazendo aquela vibe de death metal com groove por alguns breves segundos. Mas a princípio a música não foge do incessante blast um tanto simplório que não perde sua presença, sempre trabalhando na mesma ideia e terminam da forma como começaram, remetendo ao riff inicial. Apesar de alguns instantes de anomalia musical, a música é bacana, não que supere as outras 3 faixas anteriores, mas não foge da proposta dada pela banda.


5. Putrilagem
A banda vem crescendo lá do fundo do poço, trazendo seus cadáveres a tona com riffs que soam bastante com um death doom, me relembra uma era bem única pela podridão que Asphyx costumava escrever. A banda fica num ritmo cadenciado entre frases malignas em um gutural grave e uma outra voz meio profética que fica um tanto de fundo. Apesar do nome ser em português não se percebe até então a presença da língua portuguesa na letra. O riff acaba ressoando enquanto é abordado por uma voz narrativa de algum filme de terror falando da praga dos cadáveres e do fedor dos corpos que infesta o ar. A banda continua numa sombria melodia, mesmo em clean, para segurar a sua ideia principal. A música se consolida um tanto depois, com a presença do vocal grave e obeso em riffs pesados, e depois, a melodia fica ainda mais negra e ousada com os vocais medianos e profanos. A mesma vai crescendo e tomando corpo mas nunca perde sua linha. O riff até muda uma hora, com direito a chamada e tudo mais, mas retorna a ideia original momentos depois. Se torna uma música mais interessante de se ouvir devido a maneira que foi construída, dando sempre sensação se de querer ouvir um pouco mais, ver o cemitério pegar fogo por mais alguns instantes, sabe? Mas ela acaba em um corte final, o que talvez seria a decisão mais correta a se fazer para não tornar a faixa de 4 minutos com mais delongas desnecessárias.


6. Similia Similibus Solvuntur
Uma ambientação de uma caldeira infernal queimando corpos que ainda berram por uma única esperança de vida, enquanto se afogam em um fim certo. A banda repentinamente com riffs ressoantes e a chamada do cymbal que você que vai trazer algo maligno. Os riffs investem na mesma ideia de manter a tonalidade e estrutura. Não é cadenciado, é quadrado e sem segredos para estabilizar a frenesi dos ouvintes. Apesar dos vários momentos de blast que soam como metralhadoras maquinas triturando intestinos, a música tem riffs bem consolidados, ainda na sua postura vocal, com um ou outro detalhe que muda um pouco da harmonia, mas sempre sendo um tanto fiel a essa sujeira que ficou bem emposta num 4/4. Ela termina com slide um tanto inusitado que talvez, foi a única coisa que soou um pouco além do inesperado de uma forma não tão positiva. Mas o que é um peido pra quem já está literalmente na merda, né?


7. Unsatisfactory Doctors Report
O riff começa frenético sem a mínima necessidade de blast beats. A música se mantém com essa levada que acentua algumas frases, dando mais enfase para o riff, te encaminhando para a gosmenta brutalidade recheada de blasts na vibe black metal e porngrind. Após repetir a mesma estrutura, a banda muda sua tonalidade investindo em linhas melódicas e um tanto obscuras para diferenciar. Depois de algumas músicas, os riffs dessa faixa se tornam bem atraentes pela estabilidade de algumas notas. Um detalhe engraçado pela intervenção de uma narração espanhola sobre necrofilia que normalmente corta a música do nada dando um dinamismo bem bacana. A música tem um detalhe um tanto breakdown um pouco perto do fim, mas volta a sua original promessa e acaba com total profanação.


8.Fetuses Forming Bizarre
A colheita dos mortos, como diz já no prefácio musical em sua narração. A música é mais uma melódia de agressividade e trituração de cadáveres por alguns instantes. Existe alguns instantes onde a simples levada da música no seu ritmo mais grooveado traz um peso decente para a melodia. O trabalho do vocal que traz uma sensação de agonia deu uma nova cara para o flesh grinder. É interessante como bem investiram, em um momento ou outro, andamentos mais lentos que remetem ao caminhar dos mortos e a lenta putrefação dos corpos.


9.Appendicular Pecculiar
A música investe na boa formação e repetição dos riffs, me lembrando um cannibal corpse da antiga época. Se você para observar, no andamento do verso, a faixa hospeda um dos guturais mais graves do álbum. Não sabemos se é natural do vocalista ou uma participação. O que é fato é que a sensação de esmagação e peso se tornam ainda maiores. Uma monstruosidade mórbida e farta que caminha sobre a sinfonia repugnante da banda. A banda trabalha com suas pausas, mas tem momentos depois andamentos simples que deixam a música com a sua verdadeira cara. Não guarda segredos. É simplesmente devastadora.


10. Soon After Death
Os riffs começam entre a troca de blasts que divergem do death pro black. É possível perceber a influência mais do que presente de Carcass na veia de composição. É quase igual, mas ainda diferente. Os vocais agudos tem seus momentos mais agonizantes, em meio de andamentos bem segmentados. Mas a princípio, talvez não teria tanta relevância a faixa no meio de tantas outras muito boas. Infelizmente, a banda ficou um pouco demais do mais do mesmo e acabou deixando sua excentricidade talvez para as demais faixas.


11. Banquete Funerário
E como prometido, a banda invoca uma propulsão total, uma infernal destruição. A fálica proporção do demônio. Apesar de começar com um som estridente de algo arranhando contra uma superfície, a banda investe num peso supremo iniciando a música com os vocais berrados em total sofrimento. Os growlings pela música, o abafar de alguns momentos dá a boa impressão de uma vibe de gravação antiga e bem underground. A música investe em praticamente uma melodia com peso extremo, tem seus outros riffs para diferenciar e criar um equilíbrio na música. Ela de longe é monótona. Apesar de teclar sempre a mesma redundância dos riffs, aproveitam bem, chegam ao caroço da laranja podre, no máximo que poderiam chegar e não mais. Definitivamente, se torna, depois de algumas faixas, uma música boa e que merece um devido replay. Mas, segura o dedo. Ainda tem um resto de rastro fecal que te guia para o fim do túnel.


12. Dementopia
A música inicia de forma insana, os vocais entram como um vômito que está prestes a jorrar o seu resto gástrico em meio a tanta carnificina. A música é perfeita para quebrar seu corpo em diversas partes, seja em casa ou num show. Ela soa como o coito e ejaculação final, misturando o caos com uma ambiência um tanto ritualística, o Death Old School com o gore. Ela não deixa a desejar em nenhum momentos. Ainda existe um breve instante que você acha que a música termina, mas a besta ainda dá seu último suspiro investindo no seu último riff e deixando o espaircer e desaparecer como uma criatura que um dia vai retornar para se devorar dos humanos e saciar a essência necrofílica que guarda por dentro. Honrando a verdadeira inspiração da banda, o álbum se despede com a sua ambiência de filmes de terror thrash, te convidando para esse tour pelo necrotério novamente.


E terminamos mais um álbum! Se você ainda não conhecia Flesh Grinder, pode perceber nesse último full que é uma banda que tenta se renovar de uma forma um tanto singela, mas não larga o osso e não muda a fórmula da composição. Confira os outros trabalhos e sinta o cheiro de podre sair de seus falantes. Caso você já conheça a banda. é interessante perceber que para um EP como Necrofiles que já prometia alguma coisa, a banda investiu mais em termo de fidelidade de composição, deixando a qualidade de gravação crua, no limite do necessário, garantindo uma experiência repulsiva para todos os ouvintes. Sobre a questão lírica do álbum, não é difícil perceber pelos nomes que se trata muito de necrofilia, a adoração aos mortos, a profanação pela anatomia humana, etc. Claro que entre um álbum e outro, existe uma vírgula de inspiração base que a banda deve ter ao escrever. Infelizmente, a banda não disponibilizou as letras desse álbum, tanto no YT quanto no Bandcamp da BLACK HOLE, além de outros meios de divulgação. Portanto, acabaram deixando fissurados pela leitura e pelo horror na mão quanto a essa questão de literatura. Contudo não é um fato crucial que vai impedir que você se sacie do álbum até a sua última gota. Que venham mais sessões médicas de mutilação e devastação corporal em prol do êxtase pelo organismo humano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário