2. Damnation
4. Disposal
5. The Beholder
6. Snapping Bones
7. Half Hearted God
8. Exit Music
9. Heresia
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O Heretic já está mais do que consolidado no Brasil em seu estilo de Heavy Metal que mescla elementos e instrumentos de música médio-oriental. Surgido como um projeto genuinamente instrumental, após alguns anos de existência o grupo passou a contar com os vocais de Erich Martins, o que abriu um leque de novas possibilidades dentro das capacidades de composição do Heretic, que, por sinal, já era vasto.
Mas esta não foi a única mudança notada nas músicas do Heretic nos últimos anos. Em seus primeiros registros o grupo, liderado pelo guitarrista Guilherme Aguiar e que também possui em sua formação o baixista Laysson Mesquita, usava como base influências de Metal Extremo em sua faceta mais progressiva, que iam do Death a elementos de Black Metal, especialmente o grego. Em seus lançamentos mais recentes nota-se uma preocupação maior em enaltecer o lado mais Heavy Metal tradicional dos músicos e também o uso de afinações baixas, aproximando o som do Heretic do Djent. Não que a mudança de sonoridade do Heretic tenha sido abismal, mas novas influências surgiram, isso é fato.
O bom é que nada disso não afetou a essência da música do Heretic. O instrumental técnico e o uso (e abuso) de instrumental típico do Oriente continuam intactos. Outra coisa que chama a atenção para o grupo é o quanto eles são workaholics: o Heretic tem lançado em média um álbum por ano. Algo a se admirar tendo em vista o quanto de tempo eles devem levar para criar uma música tão complexa, rica e bem elaborada. Acrescente a isto o agravante de que Erich Martins mora em Portugal, o que faz com que as reuniões da banda sejam por vídeo-conferência. Tudo bem, a internet aproxima povos distantes, mas seria mais confortável trabalhar e compor todo mundo junto pessoalmente, não? Ponto extra para o Heretic nesse detalhe. Pois bem; o novo lançamento do grupo atende pelo curioso e instigante título de Are You… Comfortable? e foi disponibilizado recentemente nas plataformas digitais pelo selo Roadie Metal.
Erich Martins é um baita de um cantor. Possui um timbre de voz agradável, técnica apurada e agudos penetrantes que remetem aos de Tim Owens (ex-Judas Priest). Suas qualidades são percebidas já pouco após a introdução de The Realm, faixa que abre os trabalhos. Em um momento frenético da canção ele arregaça em seus agudos enquanto as guitarras e o baixo seguram a barra com força numa base agressiva e cadenciada. Esta faixa conta com a participação do guitarrista Luís Maldonalle num excelente solo de guitarra. Os breakdowns típicos do Djent abrem a próxima música, Damnation, servindo como base para um perturbador instrumento de sopro oriental que surge aos poucos. Em sua metade, uma base em percussão serve de prenúncio para a parte cadenciada que vem depois, executada em afinações baixíssimas e com bends arrepiantes. Detalhe também para o diferencial que o baixo fretless de Laysson Mesquita traz aos arranjos.
The Day That Never Was é uma música mais lenta e introspectiva, tanto que seu refrão lembra um Doom Metal clássico. Um maravilhoso solo de violino, no melhor estilo Samvel Yervinian, encerra de forma apoteótica esta faixa. É maravilhoso o clima que se desenvolve na mente do ouvinte quando do nada as percussões e os instrumentos indianos entram em ação como águas de um tsunami que lhe submergem. Disposal e The Beholder enaltecem a faceta Heavy Metal do grupo, sendo que na primeira ainda existem resquícios de breakdowns “djentianos” e na segunda um clima Doom reforça a melancolia criada pelo solo de um instrumento de sopro, preparando tudo para mais um grande solo de guitarra no final da música. Os breakdowns e a proeminências das afinações baixas voltam com tudo em Snapping Bones e seus ritmos intrincados.
Um tempero Morbid Angel é percebido em Half Hearted God, algo que foi muito bem-vindo pois lembrou os primeiros trabalhos do Heretic. Instrumentos típicos de corda e de percussão incenseiam o ambiente em Exit Music, deixando tudo com um inebriante e etéreo odor psicodélico. Esta faixa só não é genuinamente instrumental pois alguns vocais de Erich Martins aparecem inundados de efeitos, funcionando mais como um reverb atmosférico à composição. Os trabalhos se encerram com a primeira música cantada em português da história do grupo, Heresia. Pela introdução achei que fosse começar um andamento Trap (!) na música. Mas não; um ótimo trabalho de guitarras conduz a cadenciada e variada composição que é cantada por Paulo Rocha (A Última Theoria, Paimon), que foi o responsável por criar a linha vocal da mesma. Destaque para o solo de baixo que está embebido num efeito que me pareceu um phaser, que, somado ao já diferenciado timbre do fretless, faz emergir um som curioso e envolvente.
Pegar um novo álbum do Heretic é ter certeza antes mesmo de ouvi-lo que estamos diante de um trabalho extremamente bem cuidado e bem produzido nos seus mínimos detalhes. Cada detalhe de cada música é muito bem pensado e encaixado, de modo que a audição de todo o álbum se torna um exercício empolgante e prazeroso. Dá até para praticar uma yoga ou um feng-shui ao som dos goianos. A arte de capa de Are You… Comfortable? foi elaborada pelo artista Rômulo Dias, que conseguiu expressar plasticamente e com perfeição a ideia de melancolia e de agonia perpetrada ao longo de todo o álbum.
As músicas de Are You… Comfortable? seguem a ideia de deixar o ouvinte em posição de desconforto. Não no sentido pior da palavra, mas sim na intenção de instigá-lo à concentração e a introspecção. Talvez seja estranho ou incompreensível para muita gente o porquê de uma banda goiana fazer um Heavy Metal técnico e de afinações baixas misturado com música indiana. O porquê eu não sei. Só sei que me sinto muito confortável e satisfeito ouvindo Heretic. Não foi diferente com Are You… Comfortable?. Ouça o quanto antes.
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