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quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Dark Avenger - The Beloved Bones: Hell - 2017 - Download


Gênero: Power Metal

02 - Smile Back to Me
03 -  King for a Moment
04 -  This Loathsome Carcass
05 -  Parasite
06 -  Breaking up Again
07 - Empowerment
08 - Nihil Mind
09 - Purple Letter
10 - Sola Mors Liberat
11 - When Shadow Falls (Bonus Track)

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LISTEN



Essa resenha foi originalmente publicada em 04/07/2017, no blog A Música Continua a Mesma. Mal eu sabia que pouco mais de 5 meses depois, Mario Linhares nos abandonaria de forma prematura. Hoje, 2 anos após sua morte, resolvi, em forma de homenagem, republicar a resenha de The Beloved Bones: Hell, seu último trabalho de estúdio, e sem dúvida, o seu auge como músico.


Sendo uma expressão individual ou coletiva, música é arte, independentemente do seu nível de complexidade sonora e/ou lírica. Assim sendo, seria correto julgarmos com bom ou ruim algo que retrata a visão de outrem? Seria certo quantificarmos um trabalho, estabelecendo um número ao final de um texto, marcando o mesmo como se marca um boi a ferro e fogo meio a uma boiada, fazendo com que todos sejam iguais uns aos outros, sem nada que os diferencie? Arte tem nota?


O parágrafo acima certamente soa incoerente, levando em conta que esse é um blog que trata justamente de resenhar trabalhos de artistas, estabelecendo uma nota aos mesmos, mas foram esses os questionamentos que vieram à minha cabeça no momento que finalizei a primeira audição completa de The Beloved Bones: Hell, 4º álbum de estúdio do brasiliense Dark Avenger. Porque, prezado leitor, o que tenho em mãos aqui (mesmo que no momento isso seja apenas no sentido figurado) não se trata de um simples CD com 11 faixas.


E digo simples, porque foi nisso que nós, nesses tempos modernos, fizemos com a música, uma das mais belas expressões artísticas criadas pelo homem. Um CD hoje é apenas um “simples” receptáculo físico para faixas que serão comercializadas em meios digitais, escutadas em streaming ou mesmo “baixadas” de forma ilegal em algum site na internet, para ouvirmos em nossos computadores. Transformamos a música em algo frio, sem emoção, que escutamos de forma individual em momentos do nosso cotidiano, como ir para o trabalho ou a faculdade, ou enquanto nos exercitamos em uma academia. E o pior, naturalizamos essa frieza e não vemos mais absurdo algum em nada nisso (salvo alguns poucos saudosistas).


Até que um dia nos deparamos com um trabalho como esse. Porque, prezado amigo (deixemos a impessoalidade e frieza um pouco de lado), o que temos aqui não é um simples receptáculo para 11 músicas que serão escutadas e comercializadas individualmente, de forma impessoal e fria. The Beloved Bones: Hell é ARTE, no mais puro sentido que essa palavra pode ter. Te faz sentir, pensar, questionar até mesmo certezas que possuiu, graças a um conceito profundo que está por detrás do mesmo. É desses raros álbuns da atualidade que você deve dedicar um tempo exclusivamente para sua audição, com o encarte em mãos, acompanhando as letras, degustando cada detalhe das canções.


Surgido em 1993, o Dark Avenger, capitaneado pelo vocalista Mario Linhares, sempre primou pela alta qualidade de seus trabalhos, sendo responsável por dois clássicos do Metal nacional entre a metade dos anos 90 e início dos anos 2000, Dark Avenger (95) e Tales of Avalon: The Terror (01). Após uma pausa na carreira entre 2005 e 2009, retornou à ativa e de 2013 para cá, soltou mais um álbum de estúdio, o ótimo Tales of Avalon: The Lament (13) e um ao vivo, Alive in the Dark (15). Mas ainda assim, nada poderia me preparar para o que encontrei em The Beloved Bones: Hell, seu 4º álbum de estúdio. Sem qualquer exagero, podemos dizer que o Dark Avenger alcançou sua maturidade musical.


Esse não é um álbum comum, pois faz parte de um trabalho conceitual muito maior, do qual é a 1ª parte. Fala sobre a mente humana, narrando o embate entre o lado emocional e o racional pelo controle do Eu, passando por diversos estágios durante essa batalha, com cada música representando um desses momentos. Musicalmente, temos aqui um Heavy/Power moderno, forte e pesado, com canções complexas, mas fáceis de se escutar, onde os ótimos arranjos se destacam.


Os elementos sinfônicos enriquecem o trabalho e os coros estão simplesmente primorosos. Muita energia, refrões marcantes, que ficam por dias na cabeça e algumas das melodias mais grudentas já forjadas pelos brasilienses. Já Mario Linhares se encontra em seu melhor momento como vocalista e há muito deixou de ser o “cara dos gritinhos”. Suas linhas vocais são variadas e a forma como ele diversifica dentro de uma mesma canção é ótima. Fora a forma como consegue passar os sentimentos descritos na canção com sua voz.


Como esse não é um álbum comum, esta também não será uma resenha comum. O nível de complexidade do trabalho exige muito mais do que simplesmente apontar destaques. Existe um contexto a ser entendido, algo muito maior do que apenas música e sendo assim, vou tentar destrinchar minimamente o mesmo aqui, nas próximas linhas.


1 – The Beloved Bones: A Inconsciência – “In my wonder world nothing remains! In this dark side of Heaven nothing remains!”
O Racional, cansado do comportamento desmedido e inconsequente do Emocional, se revela a este pela primeira vez, confrontando-o. Violinos e as orquestrações e coral dão um tom sombrio a seu início, bem de acordo com o que está prestes a acontecer. Quando o Racional irrompe, a agressividade surge, acompanhada de muito peso, melodias envolventes e um dos melhores refrões que escutei em tempos. Ficou por dias em minha cabeça.


2 – Smile Back to Me: A Negação – “Don’t turn your back to me! You gotta take on me! You know I’m just right here and I will always… be… here!”
O Emocional, ao ser confrontado pelo Racional e tomar consciência da existência do mesmo, tenta desmerecê-lo, chegando ao ponto de negar a sua existência. Aqui o clima de conflito da letra é espelhado no instrumental e nas linhas vocais de Mário, bem agressivas em alguns momentos. Pesada, tem ótimas orquestrações, que ajudam a passar a ideia de confronto, além de ser bem diversificada (com partes mais cadenciadas e outras mais velozes). Os corais estão primorosos!


3 – King for a Moment: A Fuga – “There’s no turning back to where once you called Heaven”
O clima de confronto se acirra. O Emocional tenta fugir da responsabilidade de lidar com os problemas que causa ao Eu, enquanto o Racional o pressiona a encarar a realidade e parar de fugir. Talvez a mais densa e teatral das faixas presentes em The Beloved Bones: Hell. O clima é grandioso, graças às ótimas orquestrações (que cabe dizer, fogem dos clichês que ouvimos em bandas do estilo) e Mario faz uma de suas melhores performances da carreira, conseguindo transmitir toda a emoção em seus vocais. E tem um solo primoroso.


4 – This Loathsome Carcass: A Vitimização – “All my life, I have built my hopes in the air, but the ruthless wisdom of the wind, relentless, wipes hopes and dreams away!”
O Emocional não só não enfrenta seus problemas em busca de soluções, como começa a culpar sua existência como causadora dos mesmos. Essa atitude desperta a ira do Racional. Cadenciada e com elementos orientais e tribais, você consegue sentir o clima de desprezo na mesma. Possui uma melodia simplesmente viciante.


5 – Parasite: A Raiva – “Parasite!!! I know… Parasite got a heart”
A batalha entre o Racional e o Emocional pelo domínio do Eu se acirra cada vez mais. O primeiro enxerga o segundo como um fraco e esse vê o primeiro como um inimigo. Em meio a isso, o Eu ruma para a destruição. O racional se retira da disputa. Parasite se aproxima do Power Metal, com algumas partes velozes, ótimas melodias, mas também é muito agressiva, como pede a parte lírica. Riffs pesadíssimos por parte da dupla formada por Glauber Oliveira e Hugo Santiago, um desempenho fantástico do baterista Anderson Soares e vocais que vão do suave e emocional ao agressivo, com muita naturalidade. Literalmente raivosa.


6 – Breaking Up Again: A Súplica – “You pretend that only other people carry burdens and you never will. Listen… Give me. Feed me. Keep me. Is it all you can… say?”
O Emocional assume sua completa inépcia para lidar com a vida. Da vitimização, passa a se supervalorizar, o que faz com que o Racional lhe passe um sermão contundente, exigindo que ele abandone a visão egoísta que possui. Como resposta, escuta o Emocional exigir que ele resolva todos os problemas sozinhos. Alternando entre cadência e velocidade, consegue passar esse clima de confusão com perfeição. Tem peso, ótimos riffs e boas melodias. Os vocais novamente são destaque, pela boa variedade.


7 – Empowerment: A Reflexão – “Fly! Be yourself! Now you finally know who you are!”
Após tantas batalhas, Emocional e Racional resolvam adotar um comportamento ameno, colaborativo. O Emocional assume que durante anos agiu apenas em causa própria e o racional, visando o equilíbrio do Eu, incentiva-o a fazer tal reflexão. Musicalmente se aproxima mais do Progressivo e foi a que menos me empolgou aqui, talvez pela falta de algum momento realmente marcante, o que não tira as qualidades presentes na mesma, como as boas orquestrações e alguns bons riffs.


8 – Nihil Mind: O Equilíbrio – “I remember when I started not listening to you; I just can’t recall a point through the years.”
Emocional e Racional concluem que a posição de autoisolamento e falta de diálogo que ambos adotaram por todo esse tempo foi o principal responsável pelo desequilíbrio e deterioração do Eu. O Racional incentiva o Emocional a colocar um fim no sofrimento. Apesar de pender para um Power mais clássico, você não vai encontrar clichês do estilo aqui. Ótimas orquestrações, um refrão marcante e melodias para lá de agradáveis fazem parte do pacote. Novamente, cabe destacar a diversidade vocal presente.


9 – Purple Letter: A Coragem – “This time around, you’re free to leave. No hefty anchors, no bars at all.”
Apesar de decidido a deixar para trás a vida de sofrimento, o Emocional hesita um pouco em dar o passo decisivo. Nessa hora, cabe ao Racional incentivá-lo a seguir em frente no processo de “morte” e “renascimento”. Tem uma pegada que a aproxima de vertentes mais modernas do Power Metal, com bom peso e agressividade, mas, ainda assim, soa um pouco “padrão” em alguns momentos. O teclado e as orquestrações trazem partes mais climáticas e grandiosas à música.


10 – Sola Mors Liberat: A Decisão – “Sola Mors Liberat”
Emocional e Racional se reconciliam e o último passo é dado. Assim, com o fim de um ciclo de sofrimento, surge o novo Eu. Eis aqui uma belíssima balada, que casa perfeitamente com a ideia de renascimento, graças aos vocais operísticos e ao piano em seu início. Mario canta de forma calma e você consegue sentir os momentos que antecedem o momento decisivo da história. Emocionante.


11 – When Shadow Falls: A Liberdade – “No prayer by candlelight, no tears tonight. By this time I’ll be waiting for you. When shadow falls!”
Surge um novo Eu, equilibrado, renovado e ciente dos percalços com que irá se deparar na vida. When Shadow Falls é uma bônus track presente na versão nacional, que serve como elemento de ligação com a segunda parte da história, já que aqui quem nos fala é o Eu. Trata-se de uma belíssima balada acústica, calma e melodiosa. Uma forma leve e agradável de se encerrar um álbum de tamanha densidade musical e lírica.


The Beloved Bones: Hell teve a produção e a mixagem feitas pelo guitarrista Glauber Oliveira (Caravellus) e sua masterização foi realizada no renomado Fascination Street Studios, na Suécia, pelas mãos de 


ninguém menos que Tony Lindgren, que já trabalhou com grandes nomes como Angra, DragonForce, Kreator, Enslaved, Katatonia, Sepultura, Paradise Lost, Soilwork, dentre muitos outros. O resultado final de toda a produção é simplesmente primoroso. O som é claro, limpo, audível, mas soa grandioso e vivo, algo raro em um mundo de produções plastificadas. Já a belíssima capa, que transparece todo o conceito por trás das letras, foi obra do artista gráfico francês Bernard Bitler (vale a pena dar uma pesquisada na obra do cara na internet).


Poucas vezes me vi envolvido dessa forma por um álbum. E ainda mais raro, foi nessa vida ter me deparado com letras tão fortes e profundas, a ponto de me fazer pensar. Foi quase um processo de autoanálise. Tudo aqui foi pensado de maneira minuciosa, conceito, música, letra. Uma não sobrevive sem a outra. Complexo, mas fácil de se ouvir, com arranjos simplesmente primorosos e muito, mas muito bom gosto, o Dark Avenger se lança em sua jornada mais ambiciosa.


Em um mundo cada vez mais frio, onde as relações, sejam pessoais, afetivas ou comerciais, se virtualizam cada vez mais, onde as pessoas são bombardeadas desde novas com cobranças e expectativas de serem pessoas de sucesso, o que invariavelmente causa frustrações e dificuldades quando são confrontadas com a dureza do mundo real, o Dark Avenger nos entrega uma obra que esfrega toda nossa fragilidade emocional em nossas caras. É duro, mas é a verdade.

Quanto à nota? Meu amigo, ao menos por hoje, não vamos quantificar a Arte.


3 comentários:

  1. Uma perda lamentável!Mário Linhares era um vocalista sensacional!Aliás o DArk Avenger era/é uma banda subestimada!Fará falta!Obrigado por postar!

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  2. Obrigado mano!!!
    Parabéns pelo ótimo site!!!

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